Uma Belezura!
(Na foto, Violão Valentim Modelo GC No. 51, 2010 - Ribeirão Preto, SP - pertencente ao amigo Luciano de SP. Foi fabricado com tampo de cedro baseado no Ignacio Fleta e laterais e fundo com Jacarandá Bahiano, porém uma das peças fora retirada de uma Barra de uma Cama! A construção é moderna seguindo as tendências Australianas.)
(No dorso podemos ver os dois tons do Jacarandá Bahiano)
Entrevista concedida à mim, pelo Luthier Valentim em Fev-2010.
MARCO: Oi, Valentim! Quando foi que iniciou suas atividades de Luthier? Teve algum mestre?
VALENTIM: Eu comecei a me interessar pela construção artesanal de violões no final de 1999 incentivado por um amigo que queria construir uma guitarra elétrica. Desde então comecei minhas pesquisas para fazer meu primeiro violão. Na verdade nunca tive nenhum mestre especializado em lutheria.
MARCO: Sendo assim seu aprendizado se deu de forma autodidata e fruto de muita pesquisa. Poderia comentar como chegou à técnica utilizada nos violões atuais modelo GC, elogiado pelo virtuose Gustavo Costa?
VALENTIM: Sim, sou um luthier que aprendi tudo sem ajuda profissional de ninguém, então acho que se pode dizer que sou um autodidata. acho que as pesquisas não acabam, porque sempre surgem novas idéias. O ponto fundamental de minha carreira profissional foi quando conheci Gustavo. Posso dizer, com certeza, que apartir do momento em que segui seus conselhos, foi que meus violões começaram a ser Violões Clássicos. Devo dizer que ele foi meu "orientador" na identificação sonora, que eu não tinha, para um violão clássico. Sem falar nas idéias que ele me trouxe de violões Australianos!
MARCO: Você teve que fazer alguma ferramenta específica para a construção dos seus Violões e Violas?
VALENTIM: Tive que fazer varias! Como aprendi tudo sem auxilio de profissionais do ramo, nem sabia que muitas delas tinham pra comprar! Outras uso as de marcenaria mesmo.
MARCO: Qual a diferença entre um violão tradicional e um mais moderno? Comente sobre sua técnica mais moderna.
VALENTIM: Um violão tradicional é construído com base em plantas de Luthiers tradicionais como Antonio torres, Hauser, etc. Basicamente as espessuras usadas em tampos tradicionais variam de 1.5mm à 1.8mm nos graves e 2.0 à 2.3mm nos agudos. As laterais medem, em média, 1.5mm. O fundo, na parte central, 2.3mm e nas bordas 1.8mm. É claro que isso depende de cada luthier, estou citando essas medidas só pra se ter uma idéia! Um violão moderno é construido nos moldes de construções Australianas. Nos tampos que são bem finos uns usam nomex (fibra de carbono) entre dois tampos, outros usam a treliça, triangulos para travar as laterais e os fundos e geralmente medem 6.5mm para dar projeção ao violão. Não da para explicar todas detalhadamente, mais ou menos é isso que eles fazem!
Utilizo escala levemente suspensa para facilitar a tocabilidade. Para endurecer as laterais do violão e fazer com que o tampo vibre bem mais que o normal faço da seguinte forma: uma cinta em volta de todo o violão colada com resina epoxi e duas cintas menores serrilhadas para segurar um triangulo colado ligando as duas laterais e o fundo do violão, abaixo 1.5 cm do tampo na região do cavalete. O fundo do violão é composto de 3 laminas de jacarandá na espessura de 4mm cada, uma também colada com uma resina epoxi para endurecer o fundo e também serve como escudo para refletir o som. O tampo e o fundo são feitos abaolados para completar construção. O acabamento do tampo é feito em Goma Laca Americana. Nas laterais, fundo e no braço uso Fundo Acabamento PU 70% de brilho Sayerlac.
MARCO: Quais madeiras que você tem usado para construir os Violões e Violas?
VALENTIM: As madeiras que utilizo em meus violões são:
- Para o TAMPO, Red Cedar ( USA ) ou Engellman Pinho ( USA );
- Para LATERAIS e FUNDO, Jacarandá da Bahia, Jacarandá Mineiro ou Paulista ou Jacarandá Indiano;
- Para o BRAÇO, Mogno ou Cedro Rosa;
- Para ESCALA, Ébano Indiano;
Obs: Madeiras adquiridas em fornecedores de materiais para Luthiers.
MARCO: Quais os cuidados que devêmos ter com um violão artesanal no que se refere à limpeza e exposição às mudanças de temperatura ambiente?
VALENTIM: - Primeiro, nunca passe alcool ou coisa do gênero para limpar seu violão, use produtos do tipo "cêra liquida de automóvel" ou simplesmente um pano úmido e depois lustre bem até o brilho ideal.
- Segundo, Tampo de violão Artesanal é muito Frágil, então nunca force o mesmo com estojos apertados ou similares. Nenhum estojo é cem por cento térmico, então não exponha aos raios "ultra violeta" ou deixe em lugares extremamente quentes, como porta-malas de carro.
Violões construidos como o modelo GC são bem resistentes às mudanças de temperaturas, as estruturas são bem reforçadas, principalmente do fundo, mas todo cuidado é pouco. Um fator bem favorável em Ribeirão é que a umidade relativa do ar é de média para baixa, mas reafirmo, madeira é madeira e todo cuidado é pouco!
MARCO: Acredito que a entrega de um violão deva variar conforme a quantidade de pedidos mas, quanto tempo leva para se construir um violão ou viola?
VALENTIM: Prazo de entrega é bastante polêmico! Alguns fatores podem contribuir para que se torne lenta a construção, um deles (e primordial) é a umidade relativa do ar que tem que ser baixa (no máximo 35%) quando se refere às colagens e também à pintura (O tempo de secagem da cola de uma etapa para outra). Colocação de trastes as vezes é rapida, as vezes é demorada, etc. Sem contar um fator humano, "luthier não é de ferro" pode ficar doente (isola!). Ideal seria fazer dois por mês, mas encaramos e passamos essa meta. Tem uma que eu esqueci, todo violonista gosta de bater um papinho com luthier e faz parte do processo, vamos sempre inovando com as idéias, que, se forem boas, são bem vindas!
MARCO: Você utiliza tensor regulável nos braços dos seus violões? Qual o critério usado pelo Luthier na hora de fabricar um braço com tensor ou não? E quais os formatos do dorso do braço que você tem utilizado?
VALENTIM: Se partimos do principio que todos os braços devem ser feito com madeiras boas e plenamente secas, usar um tensor ou não dependerá das espessuras de braço que o violonista quer que se faça no violão. Um braço de violão clássico normal praticamente não precisa de tensor, agora quando se quer um braço muito fino então é indispensável para uma vida longa do mesmo.
Abraço!!
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Atualmente concertistas tais como Gustavo Costa, Maurício Orosco, André Simão e outros respeitados músicos, se dizem muito satisfeitos com seus respectivos modelos, principalmente no quesito projeção.