( 5 de Março de 1887, Rio de Janeiro - 17 de Novembro de 1959, Rio de Janeiro)
Infância
Filho
da dona-de-casa Noêmia Villa-Lobos e do funcionário da Biblioteca
Nacional e músico amador Raul Villa-Lobos, Heitor Villa-Lobos nasce a 5
de março de 1887, no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro.
Além da cidade do Rio de Janeiro, Villa-Lobos reside com a família em
cidades do interior do estado do Rio de Janeiro (Sapucaia) e de Minas
Gerais (Cataguazes e Bicas) durante os anos de 1892-1893. Nessas
viagens, conhece as modas caipiras e os tocadores de viola, que formam
parte do folclore musical brasileiro e que, mais tarde, vem a
universalizar-se em suas obras.
Ao retornarem ao Rio de Janeiro, os Villa-Lobos transformam sua
casa num ponto de encontro de nomes respeitados da época, que ali se
reúnem, todos os sábados, para tocar até altas horas da madrugada. Esse
hábito, que dura anos, influi decisivamente na formação musical de
Villa-Lobos que, logo cedo, inicia-se na música.
A partir dos seis anos de idade, aprende, com o pai, a tocar
clarinete e violoncelo (este último em uma viola especialmente
adaptada). Raul Villa-Lobos ainda lhe obriga a exigentes exercícios de
percepção musical que incluem o reconhecimento de gênero, estilo,
caráter e origem de músicas, de notas musicais e ruídos.
Foi também nessa época, e graças à sua tia Fifina (que lhe
apresenta os prelúdios e fugas do "Cravo Bem Temperado"), que Tuhú (seu
apelido de infância) fascina-se pela obra de Johann Sebastian Bach,
compositor que acaba por servir-lhe de fonte de inspiração para a
criação de um de seus mais importantes ciclos, o das nove "Bachianas
Brasileiras".
Contato com Chorões
Ao
voltar ao Rio de Janeiro, a música praticada nas ruas e praças da
cidade também passa a exercer sobre ele um atrativo especial. É o
"choro", composto e executado pelos "chorões", músicos que se reunem
regularmente para tocar por prazer e, ainda, em festas e durante o
carnaval. Tal interesse leva-o a estudar violão escondido de seus pais,
que não aprovam sua aproximação com os autores daquele gênero,
considerados marginais.
No
início dos anos 20, como conseqüência desse envolvimento com o choro,
começa a compor um ciclo de quatorze obras, para as mais diversas
formações, intitulado "Choros"; nasce aí uma nova forma musical, onde
aquela música urbana se mescla a modernas técnicas de composição.
Viagens pelo Brasil
Com a morte de Raul Villa-Lobos, em 1899, Noêmia não consegue mais conter o filho.
Em 1905, Villa-Lobos parte em viagens pelo Brasil. Visita os estados
do Espírito Santo, Bahia e Pernambuco, passando temporadas em engenhos e
fazendas do interior, em busca do folclore local.
Em 1908, chega à cidade de Paranaguá, estado do Paraná, lá
permanecendo por dois anos, tocando violoncelo para a alta sociedade
local e violão para os jovens.
Entre os anos de 1911 e 1912 faz parte de uma excursão pelo
interior dos estados do Norte e do Nordeste. É nesse momento que conhece
a Amazônia - fato ainda não comprovado - o que marca, segundo ele,
profundamente sua obra.
De volta ao Rio de Janeiro, conhece aquela com quem se casa em 1913: Lucília Guimarães.
Maioridade Artística
O ano
de 1915 marca o início da apresentação oficial de Villa-Lobos como
compositor, com uma série de concertos no Rio de Janeiro. Na época,
casado com a pianista Lucília Guimarães, ganha a vida tocando violoncelo
nas orquestras dos teatros e cinemas cariocas, ao mesmo tempo em que
escreve suas obras. Os jornais publicam críticas contra a modernidade de
sua música. Anos mais tarde, o compositor faz questão de explicar:
"Não escrevo dissonante para ser moderno. De maneira nenhuma. O
que escrevo é conseqüência cósmica dos estudos que fiz, da síntese a que
cheguei para espelhar uma natureza como a do Brasil. Quando procurei
formar a minha cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio,
verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente,
pesquisando, estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de
musicais. Assim, o meu primeiro livro foi o mapa do Brasil, o Brasil que
eu palmilhei, cidade por cidade, estado por estado, floresta por
floresta, perscrutando a alma de uma terra. Depois, o caráter dos homens
dessa terra. Depois, as maravilhas naturais dessa terra. Prossegui,
confrontando esses meus estudos com obras estrangeiras, e procurei um
ponto de apoio para firmar o personalismo e a inalterabilidade das
minhas idéias".
Semana da Arte
No
Brasil do início do século XX, a influência européia (mais
especificamente, francesa) e a permanência do espírito conservador do
fim do século XIX incomodam a juventude, que começa a reagir a tudo
isso. Surge, então, um movimento chamado Modernista que, em fevereiro de
1922, é oficializado em São Paulo, através da Semana de Arte Moderna.
Atividades de vários campos da arte são apresentadas no Theatro
Municipal daquela cidade.
Convidado
por Graça Aranha, Villa-Lobos aceita participar dos três espetáculos da
"Semana", apresentando, dentre outras obras, as "Danças Características Africanas".
Viagens pela Europa
Já
bastante conhecido no meio musical brasileiro, alguns de seus amigos
começam a incentivá-lo a ir à Europa, e apresentam à Câmara dos
Deputados um projeto para financiar sua ida a Paris. Em meio a protestos
que condenam a iniciativa, a proposta é aprovada e Villa-Lobos parte,
em 1923, para o que seria sua primeira viagem ao Velho Continente. Ao
chegar, Debussy - uma de suas grandes inspirações - já não é mais
vanguarda, e artistas e intelectuais da efervescente capital francesa
voltam seus olhos e ouvidos para os compositores russos, como Igor
Stravinsky, que fazem música original, moderna e de caráter
nacionalista.
Desconhecido, Villa-Lobos começa a entrar no ambiente artístico
parisiense através de Tarsila do Amaral e de outros artistas plásticos
brasileiros; Arthur Rubinstein - que já o conhece do Brasil - e o
soprano Vera Janacópulos divulgam suas obras em recitais por vários
países.
Em função de um drástico corte no orçamento inicial solicitado, e
apesar do apoio financeiro de um grupo de amigos e mecenas, Villa-Lobos
se vê, em 1924, forçado a voltar ao Rio de Janeiro. Em sua chegada ao
Brasil, é assim saudado pelo poeta Manuel Bandeira:
"Villa-Lobos acaba de chegar de Paris. Quem chega de Paris
espera-se que chegue cheio de Paris. Entretanto, Villa-Lobos chegou
cheio de Villa-Lobos. Todavia uma coisa o abalou perigosamente: a
'Sagração da Primavera', de Stravinsky. Foi, confessou-me ele, a maior
emoção musical da sua vida.(...)".
Em 1927, o compositor retorna a Paris para uma temporada de três
anos, desta vez em companhia de Lucília Villa-Lobos, para organizar
concertos e publicar várias obras pela editora Max-Eschig, à qual é
apresentado quando de sua primeira ida à França. Faz mais amigos, e
artistas como Magda Tagliaferro, Leopold Stokowski, Maurice Raskin,
Edgar Varèse, Florent Schmitt e Arthur Honneger freqüentam sua casa e
participam das feijoadas dos domingos.
A partir dessa segunda temporada na capital francesa, ganha
prestígio internacional, apresentando suas composições em recitais e
regendo orquestras nas principais capitais européias. Causa forte
impressão no público e na crítica, ao mesmo tempo em que provoca reações
por suas ousadias musicais.
No segundo semestre de 1930, Villa-Lobos - a convite - retorna ao
Brasil, provisoriamente, para a realização de um concerto em São Paulo.
Contudo, não prevê que, neste seu retorno, está inaugurando um novo
capítulo em sua biografia.
O Educador
Villa-Lobos
preocupa-se com o descaso com que a música é tratada nas escolas
brasileiras e acaba por apresentar um revolucionário plano de Educação
Musical à Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. A aprovação do
seu projeto leva-o a mudar-se definitivamente para o Brasil.
Em 1931, reunindo representações de todas as classes sociais
paulistas, organiza uma concentração orfeônica chamada "Exortação
Cívica", com a participação de cerca de 12 mil vozes.
Após dois anos de trabalho em São Paulo, Villa-Lobos foi
convidado oficialmente por Anísio Teixeira, então Secretário de Educação
do Estado do Rio de Janeiro, para organizar e dirigir a
Superintendência de Educação Musical e Artística (SEMA), que introduz o
ensino da música e do canto coral nas escolas.
Como conseqüência do seu trabalho educativo, embarca para a
Europa, em 1936, como representante do Brasil no Congresso de Educação
Musical em Praga.
De retorno ao Brasil, ainda em 1936, une-se à sua secretária, Arminda Neves d'Almeida.
Com o apoio do então presidente da República, Getúlio Vargas,
organiza concentrações orfeônicas grandiosas que chegam a reunir, sob
sua regência, até 40 mil escolares, e, em 1942, cria o Conservatório
Nacional de Canto Orfeônico, cujos objetivos são: formar candidatos ao
magistério orfeônico nas escolas primárias e secundárias; estudar e
elaborar diretrizes para o ensino do canto orfeônico no Brasil; promover
trabalhos de musicologia brasileira; realizar gravações de discos etc.
Villa-Lobos nos Estados Unidos
"Irei
aos Estados Unidos somente quando os americanos quiserem me receber
como eles recebem a um artista europeu, isto é, em razão das minhas
próprias qualidades e não por considerações políticas...".
Apesar dessa resistência inicial - é o momento da chamada "política
da boa vizinhança" praticada pelos EUA com aliados na 2ª Guerra Mundial
-, Villa-Lobos, convencido pelo maestro Leopold Stokowski, aceita o
convite do maestro norte-americano Werner Janssen para uma turnê pelos
EUA, em 1944.
A partir daí, retorna àquele país várias vezes, onde rege e grava
suas obras, recebe homenagens e encomendas de novas partituras, além de
estabelecer contato com grandes nomes da música norte-americana,
fechando, assim, o ciclo de sua consagração internacional.
Villa-Lobos morre de câncer, em 17 de novembro de 1959, no Rio de Janeiro.
"Era
um espetáculo. Tinha algo de vento forte na mata, arrancando e fazendo
redemoinhar ramos e folhas; caía depois sobre a cidade para bater contra
as vidraças, abri-las ou despedaçá-las, espalhando-se pelas casas,
derrubando tudo; quando parecia chegado o fim do mundo, ia abrandando,
convertia-se em brisa vesperal, cheia de doçura. Só então percebia que
era música, sempre fora música".
Crônica de Carlos Drummond de Andrade publicada quando Villa-Lobos morreu.
Fonte:
http://www.museuvillalobos.org.br/
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