terça-feira, 27 de setembro de 2011

Monina Raitzin de Távora...


Depoimento de Sérgio Abreu sobre a violonista e professora Adolfina Raitzin de Távora, que faleceu dia 17-08-2011, em Buenos Aires:

http://abmeseduca.com/?p=2590

E o depoimento de Sérgio Assad, que transcrevo aqui:

"Fiquei muito comovido com a beleza do texto escrito pelo Sérgio Abreu sobre a nossa querida amiga e maestra Monina Távora. Dona Monina, como a chamávamos, sempre teve um especial apreço e admiração pelo Sérgio, destacando-o como um grande ser humano; um dos melhores exemplos de simplicidade, generosidade e dedicação ao próximo que ela conhecia. Esta admiração foi e é sem nenhuma dúvida verdadeira e recíproca. 

Meu irmão Odair e eu, ouvimos falar de D. Monina por primeira vez em 1967 quando vivíamos em Ribeirão Preto no interior de São Paulo. O nosso pai, Sr. Jorge Assad, buscava um orientador musical do mais alto nível para meu irmão e eu. Ele ouviu com muita atenção o relato feito pelo jornalista Oromar Terra, que em visita a Ribeirão Preto, enalteceu ao máximo as qualidades de ensinamento ministradas por D. Monina. Oromar nos fez ouvir então, por primeira vez, os violões dos irmãos Sergio e Eduardo Abreu que seriam o maior destaque dentre os alunos dela. Ficamos encantados!!! Era a primeira vez que ouvíamos algo tão bonito em termos de som e perfeição saindo daquele instrumento tão familiar que já tocávamos embora de uma forma ainda rudimentar. O nosso pai não teve dúvidas e acabou nos levando ao Rio de Janeiro para que a conhecêssemos. Este encontro deu-se ainda no ano de 67 e selou definitivamente o nosso futuro, apontando para uma nova direção e nos dando uma nova perspectiva de vida.

Nós havíamos aprendido a tocar o repertório dos chorões, que era a paixão de nosso pai, um exímio bandolinista na tradicional linhagem de Jacob Bittencourt. Provavelmente teríamos seguido diletantemente pelos caminhos da música tradicional e hoje tocaríamos música amadoristicamente fazendo eco ao que fez nosso pai por toda sua vida. Graças as habilidades de D. Monina e a paixão e tenacidade de Seu Jorge, que mudou a família toda para o Rio para que pudéssemos estudar com ela, hoje temos uma carreira internacional no violão clássico. Soa um tanto quanto irônico dizer que os dois, o Seu Jorge e D. Monina, faleceram há poucos meses de diferença um do outro. Nosso pai também se foi em maio deste ano nos deixando muita, mas muita saudade!

D. Monina era uma pessoa fascinante e para dois meninos interioranos que nunca haviam tido acesso a pessoas daquele nível era um grande enigma. Ela era muito cultivada e podia dissertar horas sobre assuntos variados nos descortinando todo um mundo novo ao qual ainda não tínhamos acesso. 

Nossas aulas eram geralmente aos domingos pela tarde. Começavam por volta das duas horas e seguiam pelo menos até as seis. O mais difícil na fase inicial foi começar a montar um programa que cobrisse os vários estilos musicais: Renascença, Barroco, Clássico, e Moderno. Como tínhamos experiência zero dado que o máximo que havíamos feito em termos de violão “clássico” era um pouco do repertório Latino Americano de Barrios e Fleury, tudo o que ela dizia era novidade e de um valor imensurável.

Monina era muito rigorosa quanto ao tempo e a atenção que deveria ser dedicada ao estudo do Instrumento. Ela falava em termos de 8 horas diárias embora soubesse ser impossível pra nós tamanha dedicação, afinal éramos estudantes secundários e tínhamos outros afazeres além da música. Estudávamos talvez umas 4 horas diárias e ela podia, a cada nova aula, detectar sem problema se havíamos realmente trabalhado ou não. 

Monina não era analítica na sua abordagem do discurso musical preferindo trabalhar sobre a intuição. Ela tinha uma capacidade impar em ir buscar dentro do aluno a força intuitiva de cada um. Uma das suas máximas seria: “Olhem com atenção as obras as quais vocês se propõe a interpretar. Analisem com cuidado mas no momento de tocá-las sigam sempre a intuição . A análise é bastante importante mas pode dar margem a erros enquanto a intuição é infalível”. Este tópico e muito polêmico mas eu segui com muito rigor este ensinamento e o utilizo com bastante êxito com os meus alunos no Conservatório de Música de San Francisco onde dou aulas nos dias de hoje.

Sim! D Monina era polêmica! Ela tinha a visão romântica de que o artista verdadeiro tinha que passar necessidades para evoluir, dedicar-se total e exclusivamente a sua arte e não fazer nenhum tipo de concessão. Nós tivemos problemas com ela relacionados a este último pensamento. Nós que vínhamos do interior de São Paulo e estávamos habituados à linguagem da música popular acabamos por entrar numa zona de atrito com ela e fomos proibidos de tocar o nosso velho repertório que incluía entre outros João Pernambuco, Dilermando Reis, Pixinguinha, e Jacob. Nós realmente abandonamos a prática daquele repertorio por algum tempo mas era muito difícil abandonar a própria origem e seguimos buscando alternativas que acabamos por encontrar em Gnatalli e Piazzolla. Estes dois eram considerados por ela muito bons apesar de serem compositores de musica popular, segundo ela.
Trabalhamos com D. Monina durante 7 anos, de 1969 ate 1976 quando ela decidiu voltar a Argentina e os estudos foram interrompidos. Aqueles anos foram anos super férteis onde nos pudemos acumular um grande conhecimento que nos serve como guia até os dias de hoje. Dentre as inúmeras coisas aprendidas com ela eu destacaria 8 pontos:
1) Completa dedicação ao instrumento com horas e horas de estudo diário.
2) Paciência metódica e perseverança com ênfase na repetição de passagens pré determinadas a um ritmo muito lento.
3) Incansável curiosidade e vontade de aprender coisas novas.
4) A utilização da voz como guia insubstituível no processo de aprendizagem. (O canto seria a ponte mais imediata entre a análise e a intuição.)
5) Evoluir através da intuição, acreditando nela, alimentando-a e nutrindo-se em retorno.
6) Desenvolver a capacidade interpretativa praticando determinados trechos com diferentes enfoques de expressão.
7) Compreender bem a diferença entre estilos musicais. (Para isto se servia de muitas imagens se referindo aos costumes das diferentes épocas e países. Referia-se também à forma de se vestir, ao comportamento social de cada época, e ao papel que tinha a música nestes contextos.)
8) Flexibilidade extrema no que tange a agógica e a dinâmica musical. (Neste ponto ela era realmente extraordinária, podendo demonstrar facilmente como o bom emprego da dinâmica altera completamente uma interpretação. As vezes nos surpreendia com pedidos que eram o oposto do que havia sido determinado na semana anterior.) 

Ter o aval de D. Monina no meio musical carioca nos idos de 70 era uma benção. O seu nome e a qualidade de seu trabalho era amplamente reconhecido e abria qualquer porta de teatro musical no Rio. Assim foi que debutamos no Rio logo em 1972 no “foyer” do Teatro Municipal e demos início a nossa carreira. Muitos outros alunos passaram por D. Monina que transformou-se numa figura mítica naqueles anos. Outros duos formados por irmãos também passaram por ela. Me lembro pelo menos de dois: os irmãos Montevecchi de São Paulo e os irmãos Casares de Buenos Aires. Nem todos os seus alunos prosseguiram a carreira musical mas tiveram a sorte de poder conviver com um dos personagens musicais ligados ao violão mais intensos e interessantes que já passaram pelo Brasil.
Tenho um imenso orgulho em ter sido seu aluno e me sinto um felizardo em poder me contar entre um pequeno grupo de privilegiados que caminharam ao seu lado durante a sua estadia no Brasil.
Com muitas saudades!!!"

- Sergio Assad


 http://www.violao.org/topic/11924-adolfina-raitzin-de-tavora-dona-monina/

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

AVI



Associação de Violão de Itajaí - S. C.

Web:
http://violao-avi.blogspot.com/

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Arte...


Heitor Villa-Lobos, Óleo sobre tela, 46 x 61 cm. Por Antonio Gomes.